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Tom Zé passa obra em revista /Compositor baiano lança DVD relembrando toda a sua carreira


  


   
Por Beto Feitosa / Editor do site www.uol.com.br/ziriguidum

      Da veia tropicalista de Tom Zé transborda criatividade, idéias e vontades. O compositor tem pé fincado no futuro e olho aberto no presente cotidiano. Por isso, ao contrário de seus colegas de geração, ele pouco visita seu passado. Mas seu novo DVD - e também CD - O pirulito da ciência - Tom Zé e banda ao vivo, quebra essa regra. Lançado pela Biscoito Fino em parceria com o Canal Brasil, o vídeo mistura músicas compostas desde 1968 até 2008.

      O mais curioso nessa (torta) linha do tempo é que nada aqui parece datado. Quando canta a genial Parque industrial, das melhores e menos celebradas faixas do antológico LP Tropicália ou panis et circensis, Tom Zé mostra uma música atual na linguagem e na mensagem: "A revista moralista / Traz uma lista dos pecados da vedete". As personagens podem até mudar, mas os hábitos continuam acontecendo quatro décadas depois. "É made in Brazil".

     O discurso afiado de Tom Zé está nas letras e também nos ótimos depoimentos que costuram o show. Em off, o artista abre o vídeo revelando que tinha medo do palco. Quando encara o público e apresenta sua banda em um circo de sons, o artista mostra o contrário. Sua Nave Maria, composição de 1984, levanta vôo e prepara o espetáculo tropicalista de idéias e cores. A viagem pela carreira de Tom Zé é cheia de idéias próprias, histórias interessantes e a bem humorada visão do artista. Passam quatro décadas de vanguarda em 24 músicas.

                                        Baterista dos Titãs participa da produção

      Tom Zé é comunicador. Estabelece um diálogo com a platéia, chegando a reger um coro no meio do auditório que canta o conhecido refrão "São, São Paulo, meu amor". Tom Zé é performático. Desconstruindo a bossa nova em medley que junta a história de João nos tribunais a O céu desabou e Síncope Joãobim, literalmente desmonta um violão cenográfico e constrói uma nova e inesperada música. O instrumento vira apito e percussão no inusitado número cênico do artista. Tom Zé é músico e, embora negue, conhece bem a linguagem que propõe transgressões.

     O DVD tem direção e produção de Charles Gavin, pesquisador empenhado na valorização da memória e no resgate de pérolas da música brasileira. O show foi gravado em duas apresentações, dias 5 e 6 de agosto de 2009 no Teatro da Fecap, em São Paulo. A entrevista que costura os números musicais aparece inteira nos extras, quando o compositor pode expor melhor suas idéias e leva o expectador a acompanhar sua linha de raciocínio bem particular.

     Quatro décadas depois do movimento que revolucionou a música brasileira, Tom Zé é o único filho da Tropicália que continua seguindo caminhos verdadeiramente experimentais. Sua obra não tem limites e nem paralelos. Pode ser música, pode ser anti-canção, pode ser teatro, pode ser arte plástica, instalação sonora ou o que for. Tropicalista com toda razão, é som psicodélico do baiano. Depois de um longo período enfrentando o esquecimento do público brasileiro, Tom Zé foi descoberto pelo músico americano David Byrne. Quando começou a chamar atenção nos EUA, viu sua platéia renovar no Brasil, consumindo notícias do mundo globalizado.

     Valorizada e descoberta pelos americanos, a obra de Tom Zé diz muito sobre o Brasil moderno. Com olhos e ouvidos na frente, Tom Zé é repórter do futuro, astronauta libertado em 2001. A proposta do DVD, revelada no release de apresentação, é "resumir Tom Zé". Mas Tom Zé é plural e não se apresenta em duas horas. Aqui seguem flashes de um artista que mistura informações e linguagens. Apenas alguns capítulos. Para conhecer de verdade só mergulhando muito mais fundo.



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Classificação: Ótimo


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