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O saudoso Raul Seixas nos deixou há 20 anos mas é lembrando em bela resenha de jornalista do Nordeste


     


FONTE Diário do Nordeste
Por Francisco José da Silva

     De garoto bem-comportado, pelo menos na aparência, ao cabeludo de óculos escuros da fase adulta, Raul se reinventava
Há 20 anos Raul Seixas deixava este plano para outra dimensão da realidade. O Brasil perdeu o maior cantor-compositor de sua história, não apenas pelo seu talento como cantor, mas pela sua capacidade de compor músicas com letra e conteúdo. Não desmerecendo os grandes compositores e cantores da MPB, mas é necessário reconhecer que, em Raul Seixas, a música brasileira se eleva a outro patamar, outro nível de compreensão de nossa realidade.

      Raul dos Santos Seixas
(Bahia, 1945-1989) foi o primeiro compositor a transformar a música, de instrumento poético em instrumento filosófico, discutindo desde questões políticas, até questões metafísicas e existenciais, tudo isso de forma bem humorada, mas acima de tudo numa linguagem acessível a qualquer pessoa. Infelizmente, Raul muitas vezes foi tachado de maluco (não o Maluco Beleza, é claro!) ou visto como mero comediante, numa tentativa de estereotipar sua música e sua atitude, apresentando-o como coisa exótica, mas felizmente o gênio revolucionário do Raulzito conseguiu assimilar estes estereótipos e transformá-los na sua marca inconfundível.

     Raul é o resultado alquímico de tudo que ele assimilou em termos de cultura popular, erudita e contracultura. Ele é um dos "baby boomers", ou seja, os bebês nascidos na era da bomba nuclear, aqueles que viveram numa época de transformações profundas nos costumes, na sociedade, na economia, no amor, etc. Ele viveu intensamente as décadas de 50 (época do surgimento do rock n roll, a expressão mais radical da revolução jovem), 60 (época do surgimento da guerra fria e das mudanças tecnológicas, além da revolta contracultural, dos hippies e do maio de 68), 70 (época da guerra do Vietnã, da discoteca, dos punks e do auge da Ditadura Militar no Brasil) e, por fim, da década de 80 (segundo ele mesmo, uma "charrete que perdeu o condutor"), uma década de ilusões perdidas, do fim da Ditadura Militar, da queda do muro de Berlim, do fim das ideologias e das utopias e da URSS.

     A grande utopia de Raul Seixas foi, como todos sabemos, a Sociedade Alternativa, ou seja, uma coletividade de indivíduos autônomos e co-responsáveis pelo bem estar de todos, nela seria permitido fazer tudo aquilo que não impeça o outro de fazer o que ele quer. Vinte anos se passaram e constatamos a ausência na música brasileira de algum cantor e compositor que possa ser como Raul Seixas, um espelho crítico de nossa época, alguém que tinha a sensibilidade para reunir num todo coerente a nossa herança cultural e os desafios que se apresentam ao mundo contemporâneo.

     A prova de que o mito Raul Seixas ainda está vivo é toda produção literária que surgiu desde sua morte, inúmeros pesquisadores da herança cultural do Raulzito, que já perfazem 02 teses de doutorado, 03 dissertações de mestrado, 04 monografias, vários artigos em jornais e revistas, publicações e produções midiáticas das mais diversas, mostrando de forma clara que tudo o que Raul Seixas fez não foi em vão, mas continua sendo reinventado.

     Sentimos um misto de saudade e alegria nesses 20 anos sem Raul Seixas, saudade pela ausência do Raulzito na cena musical brasileira, porém sentimos alegria em poder resgatar sua presença não apenas em suas músicas, mas na atualização de todo seu legado cultural e literário. Que me perdoe o mago e escritor Paulo Coelho, mas Raul Seixas é verdadeiramente nosso mais autêntico alquimista, no qual poucos conseguiram encontrar a pedra filosofal! Tá rebocado!


A história da célebre frase Toca Raul http://www.cadhucardoso.com/index.php?pg=public&list=1&id=128






Foto(s) relacionada(s):   A música e a obra de Rauzito são para sempre    


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