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Cadhu e Marisa Monte na Pré-estréia de O Mistério do Samba


 

Assistir à Pré-estréia do filme O Mistério do Samba, dirigido por Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda, com participações especiais da Velha Guarda da Portela e de Marisa Monte, sentada ao meu lado, de mestre Paulinho da Viola, do popularíssimo Zeca Pagodinho e da lendária Tia Eunice, também presente ao Unibanco ArtePlex, na quarta 16/07, não foi um dever jornalístico. Foi, sim, um grande prazer e algo extremamente enriquecedor, culturalmente.

O filme remonta a uma época em que o profissionalismo e a competitividade financeira não eram as molas propulsoras do Carnaval e da música, em geral, como nos dias atuais. Depoimentos diversos de integrantes da Velha Guarda da Portela, de figuras marcantes e inesquecíveis da Escola de Madureira, tais como Casemiro da Cuíca, Casquinha, Jair do Cavaquinho, Monarco, Seu Argemiro, Tia Doca, Tia Eunice e Tia Surica são preciosos e precisos.

Em aproximadamente 88 minutos, histórias são relembradas, diálogos e conversas são exibidas, no berço da escola ou nos bairros tradicionalmente Portelenses. De maneira natural e transparente, nota-se extremo cuidado com questões históricas e importantes na vida da escola Azul e Branco. Denílson Campos é exato na Edição de Som. Toca Seabra, responsável pela Mixagem e Direção de Fotografia, também. O roteiro desenvolvido por Carolina Jabor, Leonardo Netto, Lula Buarque de Hollanda, Marisa Monte e a Coordenação de Pesquisa de Imagem de Beth Formaggini são destaques à parte.

A familiaridade dos músicos frente às câmeras é incrível. Após conhecerem a beleza dos sambas e a riqueza da personalidade dos integrantes da Velha Guarda, Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda se embrenharam e obter imagens e entrevistas, documentando o que está por trás dessas composições. Foram atrás e percorreram as ruas de Oswaldo Cruz, bairro da Zona Norte carioca, berço da Velha Guarda da Portela, onde tudo começou e o reduto desses respeitados senhores e senhoras, os chamados bambas do samba, tipo: compositores como Monarco, Argemiro, Jair do Cavaquinho, Aniceto, Antônio Rufino dos Reis, Casquinha e Casemiro da Cuíca e as pastoras Surica, Doca e Eunice. Todos retratados no longa-metragem.

Marisa Monte conduz grande parte das entrevistas. Destaque para o bate-papo com Paulinho da Viola. Pareceu uma aula particular de samba de um professor para uma aluna exemplar. Diretores e equipe fizeram questão de visitar as casas dos sambistas e de freqüentar as rodas de samba – encontros festivos de cantoria, uma tradição nas escolas de samba do Rio – e, claro, registraram desfiles da Portela. Em uma destas rodas, Zeca Pagodinho comenta: “Foi lá no quintal da Tia Doca, que me apresentaram ao samba e fiquei até hoje”, para gargalhada de todos à mesa.

Nessas rodas, foi também colhida a declaração do saudoso Jair do Cavaquinho: “Se não houver tristeza, o samba não fica bonito”. Ao todo, foram quase dez anos de filmagens, até que, em 2006, o projeto foi apresentado à Natura, que o financiou, e foi foi produzido pela Conspiração Filmes e Phonomotor. Contudo Jair, tristeza seria, afirmo eu, se não tivéssemos tido o privilégio de ter visto filmada e registrada uma obra tão rica e profícua quanto essa no acervo da história do nosso cinema. Fica faltando somente um cd com as músicas apresentadas no filme.

Fotos: Bruno Veiga

Foto(s) relacionada(s):   Pré-Estréia do filme O Mistério do Samba    


Classificação: Ótimo


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