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Bela homenagem a um dos nomes mais marcantes da música brasileira


     
          

      Noel Rosa representa o clássico paradigma da música brasileira com um estilo que para muitos pode parecer simples mas que apenas frisa o refinamento científico do samba carioca, onde a linguagem direta, sem rodeios, ou melhor, sem barroquismos, basicamente diferencia o samba da maioria dos outros estilos musicais sejam estes brasileiros ou internacionais, onde se confundem poesia e eruditismo.

      É esta simplicidade de Rosa que precisa ser levada ao palco e não pode ser esquecida. Afinal, como dizia o próprio Mestre Noel: "A música é uma forma de oração". Assim, ela deve ser simples, coerente, harmoniosa e direta para que os seus conceitos possam ser melhor assimilados. Por isso, ele fez o samba descer do morro para o asfalto.

      A real interpretação do samba, principalmente em se tratando de Noel Rosa, deve ser feita com muito suingue e muita malemolência e também deve ser capaz de passar a impressão do bom malandro ou boêmio, que na concepção carioca são termos sinônimos e Rui de Carvalho exibe com brilhantismo em um timbre de voz misto, entre João Nogueira e Agepê. É o que nos passa essa gostosa impressão, mesmo não sendo Rui um carioca de nascimento. É valido também ressaltar que este excelente nível de trabalho foi alcançado em um cd que foi produzido em, aproximadamente, 40 dias.
                              
                                         Arranjos que enriquecem ainda mais o cd
     
           O arranjo montado por Flávio Pereira à base de violão, tamborim e ganzá é outro destaque extraordinário, porque demonstra muito bem a forma de apresentação das músicas nos bares cariocas, ao tempo de Noel, muitas vezes apenas feitas com um violão e uma caixinha de fósforo. As músicas no trabalho buscam fugir do melancolismo e flertam até com a bossa nova em algumas faixas.
               
      Também a forma coloquial com que as músicas são apresentadas e a firmeza na interpretação mostram a grandeza do intérprete, capaz de exaltar com muita elegância toda a graça que há por trás de músicas como: "Gago Apaixonado" e "Conversa de Botequim"; assim como mostrar todo o romantismo sublime contido em faixas como: "Três Apitos" e "Fita Amarela". Rui ainda consegue um misto de alegria e tristeza na música "Feitio de Oração", caracterizando bem a idéia de alegria numa triste melodia. Ou seja: Coisa de gente grande!
     
Sem perfeccionismo, sugiro apenas a inclusão de um surdo-pedal em algum momento, porque a marcação do surdo é que dá ao povo a vontade de dançar, guiando-lhe os pés no samba e como o arranjo, talvez até em virtude de seu propósito, tenha ficado um pouco leve, o que deixou foi a impressão de ser uma obra apenas para ouvir. Mas o povo também quer sambar!

      Fico apenas triste agora em ter que dizer o meu "Último Desejo" na crítica: Confesso ter sentido falta de outras obras (Que me perdoem por esta brincadeira com título de música). Contudo, quero que este lamento seja visto de forma positiva no sentido de que o trabalho realizado por Rui de Carvalho e Flavio Pereira, está realmente belo e rico. O que fica em nossas mentes, ouvindo este cd do gênio e mítico Noel Rosa, é que ele tem que ser visto pelos mais jovens como um artista fundamental para as nossas raízes e que eles possam ter conhecimento total da sua influência dentro do samba ou, como quiserem, da música brasileira, semelhante à camoniana na nossa literatura clássica.

Por: Ubiratan Marques (músico e sambista)/ Colaborou: Cadhu Cardoso

www.myspace.com/ruidecarvalho


Foto(s) relacionada(s):   Bela homenagem à Noel Rosa    


Classificação: Ótimo


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