ENTREVISTAS

Raphael Nercessian tem nome de ator, é sobrinho de ator famoso, mas é músico. Por que?


     


   
        "Meu nome é Raphael Nercessian, nasci na cidade do Rio de Janeiro em 21 de agosto de 1974. E é claro que eu posso responder a pergunta que eu mais ouvi na vida, com todo prazer, sim, eu sou parente do ator e vereador Stepan Nercessian, ele é o irmão caçula da minha mãe, mas eu não sou ator (como já dizia Humberto Gessinger). Quando eu vou ao teatro, fico ligado na sonoridade do ambiente, e imagino logo uma bateria, caixas de retorno, não tem jeito! Desenhar, dançar, cantar com uma raquete de tênis simulando uma guitarra e jogar bola eram as coisas que eu mais gostava de fazer.

       Isso foi antes de topar com o instrumento que iria mudar a minha vida: o violão. Eu tinha 15 anos e já começava a sonhar em ter músicas próprias e ter uma guitarra. Um dia eu fui ao centro da cidade com uma tia, e o vendedor desceu a guitarra do segundo andar, amarrada numa corda, digo que a minha primeira guitarra desceu do céu! Era uma Golden preta, imitação barata de uma Gibson.

       Meu primeiro amplificador foi um Irmãos Vitale, que tinha uma chave para a controlar a fase! Com a fase errada, o amplificador te dava um choque, com o tempo eu fui me acostumando. Um primo goiano, estudante de engenharia que eu "transformei" em baixista, deu muitos pulos plugado naquele amplificador, coitado! Graças a Deus, aposentei aquele amp e a guitarra e parti para um equipamento mais profissional".


Cadhu Cardoso - E aí Raphael, diferentemente do que fez o cineasta Duncan Jones, filho do famoso camaleão do Rock, David Bowie, que seguiu a carreira no cinema ao invés da música, você que é sobrinho do famoso ator global Stepan Nercessian e filho do cineasta Xavier de Oliveira, que lançou seu tio, aos 15 anos, no filme "Marcelo Zona Sul". seguiu um caminho oposto. O que fez a música falar mais alto e entrar na sua vida e não as telas?

Raphael Nercessian - Eu acho que a música é capaz de absorver todos os meus dotes artísticos, a poesia, o desenho e o teatro que, com certeza, está no meu sangue, por causa da minha família. Admiro muito a profissão do meu tio, se fosse ator gostaria de ser comediante porque o dom de fazer outras rirem, deve ser muito gratificante. Apesar de ter uma familia de artistas, a música sempre falou muito mais alto por identificação, pela complexidade dos solos de guitarra e ao longo dos anos minha dedicação à música sempre foi intensa, buscando a originalidade no meu trabalho, valorizando o peso do instrumental nas músicas. A música é o meu propósito de vida.

Cadhu Cardoso - Em seu site pessoal, você declara que a música tem o poder de transformar o estado de espírito das pessoas e se isso não acontece, elas desperdiçam o poder que têm. Fale mais sobre isso.

Raphael Nercessian - A música tem o poder de levantar o astral de uma pessoa, acho que existe uma música para cada tipo de estado de espírito que você quer experimentar, é claro que é preciso de um pouco de disposição para ser "garimpeiro", a música tem o poder de falar com os seus sentimentos, e se uma música não te transporta a algum sentimento, é porque ela é um desperdício de tempo e energia. A música tem uma linguagem universal. Independente da língua ou se você entende o que está sendo dito, você entra em contato imediatamente com o sentimento. A música é uma companheira que sempre estará ao seu lado. A música pode transformar as pessoas quando planta bons sentimentos.

Cadhu Cardoso - Você também diz que tem o hábito de avaliar a música em todos os seus aspectos, harmônicos e soluções musicais.. Avaliar música, sendo um músico, é uma coisa, mas como consumidor é outra. De que maneira trabalha para fazer esta ponte com qualidade?
                                        
Raphael Nercessian - Eu não costumo olhar uma música apenas com os olhos de "músico", existe o sentimento envolvido. Alguns aspectos são avaliados, como por exemplo a pessoa, o músico. Quando compro um CD do Bob Marley, estou comprando não apenas o ritmo reggae, as letras fantásticas, as melodias harmônicas, mas estou comprando também o mito Bob Marley que imprime todo o seu sentimento naquelas canções, isso também é um aspecto de qualidade.

                                   Os 2 lados da moeda

Cadhu Cardoso - “O que mais me inspira são as pessoas e suas convicções”, você declarou. Em tempos de uma sociedade tão condicionada a viver e se portar de forma tão semelhante, estas mesmas pessoas ainda são capazes de servirem de inspiração, tão fortemente, nas suas canções?
                                     
Raphael Nercessian - Viver de forma semelhante é também uma fonte de inspiração. Minha canção Entre Sem Bater, fala justamente disso, que não precisamos seguir aquilo que é contra a nossa própria natureza, que inevitavelmente é diferente dos grupos aos quais somos inseridos desde cedo. As convicções de cada pessoas são o que elas têm de melhor a oferecer e a inspiração vem da convivencia, das experiências, de suas crenças, valores, sentimentos de perseverança. Tudo isto fala muito alto a minha produção musical.

     

Cadhu Cardoso - Em 15 anos de carreira, você tem mais de 30 canções, como a marcante “Casa na serra” e a bela “Vou procurar” (com vocal de Bete Brant). Quem você acredita que seria o artista mais em sintonia com o seu trabalho para cantar as suas músicas?

Raphael Nercessian - O meu repertório é tão diversificado que é dificil imaginar um artista para cantar todas as minhas músicas, mas certamente já sonhei, em ter algumas músicas gravadas por Djavan, Ivete Sangalo e quem sabe o próprio Rei Roberto Carlos. Um cantor da nova geração que me identifico bastante, se chama Nanny. A minha esposa e também cantora Bete Brant é uma promessa para, quem sabe um dia, gravar muitas faixas.

Cadhu Cardoso - A pirataria vem causando muitos problemas. Contudo, populariza bastante o trabalho de artistas e bandas. Nesse caso, você acha que os fins justificam os meios?

Raphael Nercessian - Não concordo com a pirataria de CD e DVD porque ferem os direitos autorais, que já são muito ignorados em relação ao que se lê na cartilha. Por outro lado cd pirata ou MP3 podem ser formas de divulgação dentro da realidade orçamentária da população.

Cadhu Cardoso - Sua maior influência é Led Zeppelin. Por quê ?

Raphael Nercessian - O Led Zeppelin é uma banda que tem músicas muito diversificada, eles vão do hard rock a um formato pop sem perder os seus traços fundamentais. Acho incrível essa capacidade de explorar novas possibilidades e não ficar restrito a uma fórmula única. O Led Zeppelin se permite fugir do formato comercial e ao mesmo tempo ser um grande sucesso e manter este sucesso comercial há décadas. Minha obra é muito diversificada, mas luto constantemente para que tenha fundamentos integrados entre si.

Cadhu Cardoso - Então, você prefere cantar, compor ou tocar guitarra/violão?

Raphael Nercessian - Aprecio mais compor e tocar guitarra.

Cadhu Cardoso - Eu, particularmente, entendo que a música é uma forma de se aproximar de Deus. O que pensa disso?

Raphael Nercessian - Deus é amor e harmonia, e a música tem os dois.

Cadhu Cardoso - A vida de todos tem altos e baixos. Ao mesmo tempo em que você perdeu um grande amigo, Fabrício, quando ele tinha só 20 anos, você ganhou um grande amor, a Bete Brant. Como analisa e observa estes 2 lados da vida?

Foi com o baixista Fabricio que vi o sonho da banda a se tornar real. Nossa amizade era muito forte e produtiva por causa da nossa sinergia. Perdê-lo foi um golpe muito duro,minha banda se desfez. Pouco tempo depois, em questão de dias, conheci essa pessoa maravilhosa com quem estou casado há 6 anos. Como disse meus padrinhos de casamento e pais do Fabrício, foi no momento mais difícil que escrevi o capítulo mais belo, viver o amor com uma doce pessoa que também tem intensamente o sentimento pela música, ou seja, é minha companheira em todos os sentidos além, é claro, de ter uma bela voz e participar em várias faixas do meu cd como backing vocal. Não é todo músico que tem a sorte de ter casado com alguém que tem amor pela música e nossa parceria fica evidente na composição de "Vou Procurar".

Cadhu Cardoso - Se pudesse voltar no tempo, mudaria alguma coisa em sua carreira visando impulsionar seu futuro artístico?

Raphael Nercessian - Gostaria de ter começado a tocar violão aos 10 anos.

Um abraço e até a próxima

Assistam a entrevista do Raphael na tv no link http://www.youtube.com/watch?v=uzvViFUPz-A

Site oficial do artista: http://raphaelnercessian.nercessian.com.br/


Foto(s) relacionada(s):   Raphael Nercessian deixou a música falar mais alto    


Classificação: Ótimo


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